."Eu me lembro que eu estava perdendo o interesse pelos estudos na época"(Mestre Ras Iuri).
Mestre Marrom e Sizinio Sales, seu companheiro de treino e amigo de Bairro o levaram para o Forte Santo Antonio, hoje Forte Da Capoeira. Desde o início ele pode conviver com personalidades importantes da capoeira na Bahia. Como Mestres Joao Pequeno, Boca Rica, Curió, Caboré, Roberval, Gabriel e Moraes. Mestre Moraes na sala de cima, Mestre Joao Pequeno na sala de baixo. Seus treinos aconteciam na sala da frente no Grupo Filhos De Angola, que dividia a sala com o Mestre Boca Rica. Mestre Rosalvo e Mestre Laércio já tinham se mudado para a Alemanha e o grupo de Capoeira Filhos De Angola estava nas mãos de Mestre Gabriel, Wilson, Marrom mestre hoje, Valdec tambem já mestre, Augusto Tiuba, Sizinio e muitos outros Angoleiros de qualidade.
Depois de dois anos ele abandonou a Capoeira e quando resolveu voltar, seu Mestre já tinha fundado o Grupo De Capoeira Angola Do Acupe, lá na rua onde Morava, e onde seus pais ainda moram, a Rua Boulevard Copacabana.Lá foi onde ele descobriu que capoeira era mais do que um hobby, mas sim a sua filosofia de vida e o que queria fazer pelo resto da sua vida. Logo se tornou diretor da comissão de instrumentos, ajudou na criação da segunda orquestra de berimbau de Salvador , a primeira foi criada pelo GCAP(Grupo De Capoeira Angola Pelourinho).
Na década de 90, seu mestre decidiu criar a ABCA – Associação Bahia de Capoerira Angola. Bateram na porta de muitos Mestres da velha guarda como Mestres Caicara, Gildo Alfinete, Diogo, Zé Do Lenço, Mario Bom Cabrito, Virgilio, Curió, Barba Branca, Pelé Da Bomba e outros. Foram muitas as visitas a dona Maria Romélia, a famosa dona Nice, mulher do Mestre Pastinha. Com muita luta, conseguiram uma casa no Centro Histórico(Pelourinho) que está lá até hoje. Mestre Ras nos conta que essa foi uma experiência difícil de explicar com palavras. Pura magia!
A Capoeira desde o início lhe trouxe coisas maravilhosas. Por causa dela conheceu sua esposa, Linda Lewis, com quem é casado há 16 anos. Ela tinha ido no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, para aprender a arte em troca de Inglês. "Eu me convoquei a ensina-la e três meses depois estávamos casados"(Mestre Ras Iuri). Decidiu ir para Indiana-USA e foi graduado Contra-Mestre pelo grupo aqui no Brasil.
Já nos Estados Unidos ,em 1998, fundou três núcleos do Grupo Do Acupe no estado de Indiana(Bloomington, Indianapolis e Evansville). Continuava o trabalho deixado no Barsil. Fez vários intercambios trazendo seu meu Mestre, Joao Pequeno em 2003, e alunos do grupo. honrando a capoeira angola e o ensinamento do seu mestre. Mas infelizmente em 2005, percorreram caminhos diferentes.
É fundado então um novo grupo, Grupo De Capoeira Angola Estrela Do Norte. Agora com núcleos em Bloomington - Indiana, Indianapolis - Indiana, New Orleans - Louisiana, Vietnam, Portland - Oregon. Alguns desses são pequenos grupos de estudo da Capoeira Angola, mas provavelmente futuros núcleos.
"Aqui sinto o quanto pude transformar a vida das pessoas com a capoeira. Tenho muito amigos e pessoas que me admiram".
Recebeu uma homenagem que o emocionou muito. Título dado pela organizacão Artes Tradicionais De Indiana-USA de melhor e maior trabalho com comunidade em Bloomington Indiana 2006. Participou de eventos importantes como o encontro internacional em 2008 e na Alemanha no ano passado, encontro do Filhos De Angola(M. Laercio). Fora os inumeros workshops e cursos em mais da metade dos EUA. Esses são os frutos do seu trabalho e dedicação a capoeira, de quase vinte anos. "
"É muito bacana, pra mim uma Vitoria, um Afro latino Americano, Brasileiro, Nordestino, ensinar Capoeira Angola e Cultura Barsileira, como ensinei em duas universidades, Indiana University e IUPUI por mais de 7 anos, sem nunca ter tido a oportunidade de estudar numa Universidade".
E asim faz a sua parte, espalhando não só a arte da Capoeira Angola mas também o nome de todos os Mestres da Bahia e alguns do Brasil. Um exemplo foi um curso de três créditos através do departamento de estudos Afro Americano e África Diaspora, que ensinava na IUPUI, uma universidade grande em Indianapolis. Os alunos recebiam crédito para graduação através do seu curso. E assim segue na batalha do dia a dia, com alegria no coração e a capoeira no corpo.
Entrevista
NP-Com quantos anos você iniciou na capoeira e conte-nos como foi esse início?
Iniciei na arte com mais ou menos treze anos de idade. Eu me lembro que naquela época eu estava perdendo os interesses pelos estudos. Meu Mestre subia e descia a ladeira da rua onde eu nasci e cresci, Rua Boulevard Copacabana no Bairro de Brotas. Onde ainda se encontra a casa da minha familia. E sempre que encontrava meu avô na frente da minha casa no meio da ladeira(Doutor Juvenal, nascido e crescido em Santo Amaro). Eles entravam em uma conversação sobre a Capoeiragem de Santo Amaro, terra de Besouro. E em uma dessas conversas eles decidiram que eu deveria ir para a Capoeira. E ali comecava a minha história, na sala da frente no andar de cima do Forte Santo Antonio, hoje Forte Da Capoeira. Onde o Grupo De Capoeira Filhos De Angola dividiam a sala com o Mestre Boca Rica. Eu não tinha ideia de onde eu estava entrando.
NP-Fale um pouco do seu contato com mestres João Pequeno, Boca Rica, Curio’ e Moraes, o que esse contato trouxe de crescimento para a sua capoeira?
Mestre João Pequeno, foi o que tive mais contato. Mestre do meu mestre. Na sua academia onde vadiavamos quase todos os Sábados. Tive a oportunidade de conviver com o Mestre por um mês quando trouxe ele para Indiana em 2003. Com certeza sua metodologia de ensino foi a que mais absorvi.
Mestre Boca Rica. Meu primeiro contato com um Mestre da velha guarda no Filhos De Angola. Me lembro que quando iamos a feira de São Joaquim(Água de meninos), sempre visitavamos Mestre Boca Rica, que vendia limão na feira. Acho que do Mestre Boca Rica a sua música, sua poesia que é de uma beleza sem fim.
Do Mestre Curió. Outro Mestre que tive oportunidade de frequentar inumeras rodas e eventos. O teatro, a brincadeira na roda de Capoeira. O amor pelo Mestre Pastinha. Se você nunca foi a um evento do Mestre Curió, voce deveria ir. O tradicional caruru, teatro, frevo. Uma volta ao passado.
Do Mestre Moraes a musicalidade, a seriedade de compromisso com a arte da Capoeira Agola em todos os aspectos. O GCAP nos deu impulso em todos os sentidos. Jogar bem, tocar bem e falar bem de capoeira eram prioridade. O Grupo do Acupe era um grupo mais jovem, mas quando frequentavamos as rodas do GCAP, nos tinhamos qualidade e originalidade. O que abriu ainda mais as portas do GCAP para nosso grupo.
E muitos outros mestres que tive a oportunidade de conviver e vadiar. Mestres Mala, Pele Da Bomba, Barba Branca, Gildo Alfinete, Mario Bom Cabrito,Bobo......
NP-Como foi o processo de participar de criação da segunda orquestra de berimbau da Bahia ?
Eramos jovens demais. Agradeço a toda a galera do GCAP que abriram nossos olhos para aquele trabalho. Eu e um garoto de 15 anos, o Pingo dividiamos a direção do trabalho. O GCAP fazia um trabalho onde eles exploravam outros ritimos, não só os da Capoeira. E nos do Grupo do Acupe tivemos a ideia de fazer a nossa mais baseada nos ritimos da Capoeira. Apresentamos a nossa orquestra na Praça Teresa Batista no Pelourinho. Onde fomos aplaudidos por muitos e alguns membros do GCAP que la se encontravam.
NP-Como foi mudar de um país para outro, você encontrou muita dificuldade?
Um processo que poderia ter sido muito mais difícil, se meu avô e meu mestre não tivessem tido a ideia de me colocar na Capoeira. Onde eu pude me concentrar e me disciplinar para que eu terminasse meus estudos. Outro fato que me ajudou muito nesse sentido foi a minha esposa. Eu já sai de Salvador casado. Mas você passa por todo tipo de dificuldade sem poder falar a língua de outro país. Estudei inglês por dois anos sem parar. Me graduei em Inglês como segunda língua. Depois disso eu já me encontrava ensinando e me apresentando nas escolas públicas, universidades, museus....Antes disso eu tinha sempre que ter alguem pra traduzir. A Capoeira Angola que meu Mestre me ensinou diretamente e a que os outros mestres me ensinaram indiretamente me prepararam de uma maneira tamanha, juntamente com a educação dada pelos meus pais, me deram a capacidade de entrar em qualquer meio dentro de qualquer sociedade. Mas dificuldades vivemos a vida inteira fora do nosso país.
NP-Como o senhor vê o crescimento da capoeira na atualidade?
Acho que essa e uma questão que na minha opinião não existe muito segredo. Porque sem dúvidas, a Capoeira hoje chegou a um lugar que só os Mestres Pastinha e Bimba visionaram onde iria chegar. Eles sabiam que a Capoeira seria a arte do futuro. Hoje temos livros, Cd’s, filmes, documentarios, todo mundo treina com todo mundo. No meu tempo não existia nada disso. Então o crescimento da Capoeira e as mudanças que acontecem na Capoeira tanto como Angola como a Regional são inevitáveis. As mudanças virão quer queiram ou nao. Mas depende de cada um de nos sermos verdadeiros com o que desenvolvemos, praticamos, ensinamos ou apresentamos dentro da Capoeira ou para o mundo `a fora. Na Capoeira sempre existiram aqueles que querem tudo. E quem quer tudo no final não terá nada. Os que ensinam as duas e nem aprederam uma ainda. Os que usam cordão e descalcos, e ainda se chamam Angoleiros, os que pagam pelo seu diploma de Mestre, Os que vendem diploma. Isso sempre aconteceu, e acho que continuará acontecendo enquanto a pobreza, miséria e ganância existirem. Então eu vejo um crescimento positivo, mas depende de nós jovens Angoleiros e Capoeiristas sermos realistas com o que passamos, como passamos e como apresentamos nossa arte.
NP- Na sua opinião qual o significado de ser mestre?
Ser Mestre pra mim e ser pai. E saber amar, cuidar, compreender, conversar, descobrir, perdoar, aprender e ensinar.
NP- Transformar a vida das pessoas com a capoeira, na sua opinião você acha que alguns mestres e grupos estão esquecendo esse princípio e se preocupando apenas com o dinheiro?
De uma certa forma sim. Por outro lado vivemos em tempos diferentes hoje. E muito difícil julgar alguem ou falar sobre esse tema, porque não sabemos da vida que cada um leva nos seus devidos lugares. Mas pra mim a melhor remuneração na Capoeira e quando um aluno ou discípulo vem para voce e diz:" Mestre o senhor salvou minha vida! Hoje eu sei o que eu quero da minha vida". Alguns deles nem treinam mais hoje em dia, mas eu sei que estão bem na vida depois de passarem por mim.
NP- O senhor está gravando um cd, conte um pouco desse processo.Você pretende contribuir apenas com a música ou já pensou em escrever um livro ?
Eu cresci na música ja dentro da barriga da minha mae. Meu pai Helson Hart grande compositor da Bahia me deu essa mágica que é a música. Agora estamos no processo de preparar todos musicalmente, para que tenhamos bons resultatos. Porque a maneira que eu quero gravar o Cd é diferente do que geralmente nos fazemos em nossas rodas, onde o coral tem mais liberdade para harmonizar em tons diferentes. No cd eu quero o coral em uma so voz, com todos terminando juntos ao mesmo tempo e no mesmo ton. O grupo esta muito excitado com a ideia do cd. Espero poder contribuir para o futuro da Capoeira Angola com novas ladainhas e corridos. O livro é um projeto para o futuro, já comecei a escrever, mas talvez seja um projeto de dez anos.
NP- Como você vê a questão da agressividade dentro das rodas de capoeira?
Eu não posso falar das outras Capoeiras, mas Angoleiro tem que ser bem freiado, bem controlado, bem manejado como ja dizia o Mestre João Pequeno. Pra mim agressividade sem controle e sem sentido devem ser banidas das rodas de Capoeira em geral.
NP- Na sua opinião a capoeira é mais valorizada fora do Brasil?
Acho que sim em alguns sentidos e não em outros. Capoeira aqui ainda esta muito longe de ser popular como no Brasil. Todo mundo no Brasil se não praticaram, praticam, ja viram, ou ouviram falar de Capoeira. Aqui ainda tem meio mundo que não tem a menor ideia do que é a Capoeira. Por outro lado eu só precisei das mihas palestras em inglês e meu conhecimento para ensinar em algumas universidades. E me tornar um professor de Universidade aqui nos Estado Unidos.
NP- Ensinar capoeira no Brasil e ensinar capoeira no exterior, tem alguma diferença ou o processo pedagógico é o mesmo?
A diferença é muito grande, especialmente por causa da língua. Outro grande fato é a diferença cultural. Os valores familiares do Americano e muito diferente do Brasileiro. O processo pedagógico é o mesmo, com algo mais. Acho que é um processo menos oral.
O que dificulta mais ainda o processo, porque até hoje não temos suficiente material(livros,filmes,documentarios) publicados em inglês. Hoje eu tento concientizar o aluno que ele tem que esquecer quase tudo que aprendeu na vida, e entrar no meu mundo da Capoeira Angola para que ele possa entender um pouco sobre Capoeira Angola.
NP- Um desejo?
Ir na Africa
NP-Uma alegria dentro da capoeira?
Eu posso estar triste como for. Mas se eu entrar na roda. A tristeza vai embora.
NP- O que te entristece no mundo da capoeira?
A falta de união e a politicagem suja.
NP- Um ídolo?
Haile Selassie
NP-Deixe uma mensagem para os leitores do blog.
Todos os Capoeiristas devem se unir, nós seriamos bem mais fortes juntos. Mestre Pastinha já nos disse um dia para deixar as gabolices de lado. Cada um é cada um!
Eu posso ver nos seus olhos o ciume
Eu posso sentir no seu corpo a falsidade
E na sua alma o odio
Na minha casa camaradinho, prevalece o amor de Jah Rastafari!Alelujah!
NP- Mestre muito obrigado por essa oportunidade de conhecer um pouco mais da sua pessoa e do seu trabalho.
De nada meu querido Nego Panda. Continue fazendo esse trabalho de divulgação da Capoeira. Seu pagamento já está garantido pelos ancestrais!
Todas as fotos são do acervo pessoal do mestre Ras Iuri
1ª Foto; Celebração de outono, festival latino
2ª Foto: Apresentacao no maior museu de criancas do mundo-Indianapolis
3ª Foto: Evento de celebracao de 15 anos do Mestre Iuri nos EUA
4ª Foto: Apresentacao para o dia de Martin Luther King
5ª Foto: Em Berlim com Mestres Laercio, Rosalvo, Rogerio
6ª Foto:Roots of Bahia. Evento do Mestre Deraldo Ferreira
7ª Foto:Ensinando as crianças da Fundação Pierre Verger em Salvador
Boas vindas a todos amantes e participantes da capoeiragem, parabenizo vc Mestre Iure,fico muitíssimo feliz em ver que os toques que vc se referem te lhe dado foi alem das minhas expectativas, consciência e identidade cultural vc é testemunha da minha insatisfação com o processo de desenvolvimento de alguns grupo que tive a honra de participar,mais seja suas palavras as minhas sobre, ser Mestre , transformação do ser, dá a alguém a sua propiá visão de se transforma e ser alguém , não mais um na sociedade , ser ético e ter personalidade sem agredi-lo. A agressividade não é um dom de um bom a ngoleiro, a capoeire é a arte e defesa dos oprimidos nos temos o poder de mostra ao nosso adversário que vc é competente sem machucá-lo com destreza e mandinga e quanto a politicagem ,vc bem me conhece, sou polemico e contra qual que cobrança numeraria no ensino da arte da capoeira essa cultura foi nos dado sem cobrança pelos nossos antecessores, digo isso na comunidade carente que é nossa verdade , fico contente e enaltecido por ter passado algo importante para o crescimento de um garoto , hoje um grande mestre , que DEUS continue te iluminando vc seus familiares
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